As férias são, para a maioria das pessoas, um período aguardado com grande entusiasmo, uma oportunidade para descansar, sair da rotina e estar entre família e amigos. No entanto, para quem cuida de uma Pessoa que vive com Demência, planear férias pode tornar-se uma tarefa desafiante, com incertezas e preocupações. Ainda assim, pode ser uma experiência muito gratificante.
Apesar dos desafios, é possível e desejável proporcionar momentos de lazer e bem-estar à pessoa de quem cuidamos, respeitando as suas necessidades e os seus limites. Nos casos em que a pessoa se desorienta ou agita mesmo em contextos familiares, poderá ser necessário redobrar os cuidados ou repensar a viagem.
Existem algumas estratégias que podem ajudar a planear e a viver esta experiência de forma mais tranquila e segura, tornando o período de férias prazeroso tanto para a Pessoa com Demência como para quem a acompanha.
Avaliar a possibilidade de ir e considerar as necessidades e preferências da Pessoa com Demência
Ir de férias implica, na maioria dos casos, uma mudança de local, deslocações e alterações nas rotinas familiares. Cada Pessoa com Demência é única e pode reagir de forma muito diferente a estas mudanças, dependendo do seu estado cognitivo, grau de autonomia, história de vida e preferências pessoais. Por isso, organizar um período de férias deve ser pensado de forma personalizada e adaptada. Antes de decidir e planear, é importante refletir:
• Como reage o seu familiar a mudanças na rotina?
• Já demonstrou desconforto em ambientes desconhecidos?
• Existem condições médicas que exigem atenção constante?
Se existirem dúvidas, poderá ser útil discutir o plano com os profissionais de saúde que acompanham o seu familiar.
Planear com antecedência e envolver a Pessoa
O planeamento antecipado é essencial. Se a pessoa ainda mantiver capacidade para participar nas decisões, envolvê-la pode reforçar o seu sentido de autonomia e inclusão. Mantenha-a informada sobre o destino e as atividades previstas, de forma simples e tranquilizadora pode reduzir a ansiedade causada pelas alterações de ambiente e rotina.
Tenha consigo os contactos relevantes (médicos, terapeutas, familiares próximos), documentação médica essencial (diagnóstico, lista de medicação, alergias) e leve medicação suficiente para todo o período. Certifique-se de que a pessoa leva consigo identificação (ex.: cópia do cartão de cidadão, contactos de emergência). A pulseira “Estou Aqui Adultos” da PSP pode também ser um recurso útil a considerar: https://estouaquiadultos.mai.gov.pt.
Manter rotinas e adaptar o ambiente
Mudar de ares pode ser uma experiência positiva e estimulante, promovendo o bem-estar emocional e social. Contudo, também pode ser fonte de ansiedade, desorientação ou cansaço, sobretudo quando há muitos estímulos ou imprevistos.
Mesmo em contexto de férias, é importante manter alguns hábitos familiares: horários das refeições, momentos de descanso e pequenos rituais (como ouvir música antes de dormir) porque ajudam a transmitir previsibilidade e segurança.
Adapte o novo espaço: mantenha uma luz de presença à noite (por exemplo, na casa de banho), retire tapetes escorregadios ou obstáculos, e crie pontos de referência visuais. Levar objetos familiares – como uma manta preferida, uma almofada ou fotografias – pode reforçar a sensação de continuidade e conforto emocional.
Optar por locais calmos, com rotinas previsíveis e acesso facilitado a cuidados de saúde são, em geral, mais adequados. Sempre que possível, optar por locais já conhecidos pode ser reconfortante e reduzir o impacto da mudança.
Alimentação, hidratação e bem-estar físico
Mudanças na alimentação podem afetar o bem-estar da Pessoa com Demência. Tente manter uma dieta semelhante à habitual, assegure uma boa hidratação (especialmente em locais quentes) e esteja atento a sinais de desconforto físico ou digestivo.
Gerir expetativas e criar alternativas
As férias podem não significar descanso total para quem cuida. É importante ajustar as expetativas, aceitar os imprevistos e manter uma atitude flexível.
Se ir de férias para locais mais distantes for demasiado exigente, considere alternativas simples e acessíveis, mais próximas da zona de residência: um piquenique, uma ida à praia por algumas horas ou um fim de semana num local calmo podem ser muito significativos. Aproveite as características do local como uma oportunidade de estimulação para o seu familiar: um passeio ao ar livre, observar a natureza, sentir os cheiros e sons do ambiente envolvente. Mais do que visitar muitos locais, o objetivo deve ser criar momentos de prazer partilhado e conexão afetiva, especialmente se estiverem num lugar com valor simbólico para a pessoa.
Mantenha o sentido de humor, mesmo quando algo não corre como esperado.
Pedir apoio e cuidar de quem cuida
Ir de férias com uma Pessoa que vive com Demência exige atenção constante e uma grande capacidade de adaptação, o que pode levar a cansaço e desgaste por parte de quem cuida. Por isso, é essencial que também o cuidador se sinta apoiado e tenha momentos de descanso.
O bem-estar da Pessoa com Demência está profundamente ligado ao bem-estar de quem cuida. Cuidar de si é uma necessidade. Se estiver de férias acompanhado de amigos ou familiares, distribua tarefas, partilhe responsabilidades e permita-se a pequenas pausas.
Com o planeamento adequado, é possível proporcionar experiências felizes, mesmo em contextos de fragilidade. E não se esqueça: divirtam-se, tirem fotografias e guardem recordações!
Fontes:
Alzheimer Europe (2023). Guidelines on Inclusive Travel and Meetings for People with Dementia. ISBN 978-2-919811-15-1, Luxembourg, Alzheimer Europe
https://www.dementiauk.org/information-and-support/living-with-dementia/holiday/
https://www.alzheimers.org.uk/get-support/staying-independent/transport-travelling-tips-dementia
https://www.alz.org/help-support/caregiving/safety/traveling
https://www.dementia.org.au/living-dementia/staying-connected/travelling-dementia
https://alzheimerportugal.org/dicas-e-estrategias-para-viajar-com-a-pessoa-com-demencia/
Este artigo é da autoria da Alzheimer Portugal, que se dedica há 37 anos a promover a qualidade de vida das Pessoas com Demência e dos seus familiares e Cuidadores.