Pode parecer desnecessário falar sobre os direitos das Pessoas que vivem com Demência, dado que estas pessoas têm os mesmos direitos que todas as outras.
Contudo, é fundamental abordar o tema, dado que à medida que a doença progride, as pessoas vão tendo mais dificuldade em fazer valer a sua perspetiva, continuar a exercer os seus direitos e garantir que as suas decisões são respeitadas.
Acresce o peso do estigma associado ao envelhecimento, à doença mental e à demência, ainda demasiado prevalente, o qual contribui para reforçar estereótipos negativos e percecionar as pessoas com demência como incapazes e totalmente dependentes, reduzindo-se um percurso que vai durar anos e que é dinâmico, desde o seu início até à fase mais tardia da doença.
Se procura estar mais informado sobre os direitos das pessoas que vivem com demência, continue a ler este artigo.
De seguida, elenca-se um conjunto de direitos e exemplifica-se o modo como podem impactar a dignidade, o bem-estar e a autonomia das pessoas que vivem com demência:
Direitos fundamentais das Pessoas que Vivem com Demência
São os direitos que defendem os valores e interesses mais relevantes das pessoas e incluem os direitos à liberdade e segurança, à integridade física e moral e os direitos económicos, sociais e culturais, nomeadamente, o direito à habitação, à segurança social, ao ambiente e à qualidade de vida.
Por exemplo, a pessoa que vive com demência tem o direito de receber cuidados sem recurso à utilização de contenções físicas ou químicas que limitem a sua liberdade e condicionem os seus movimentos. As mesmas só podem ser usadas a título excecional, na sequência de prescrição médica e pelo menor tempo possível.
Direitos pessoais das Pessoas que Vivem com Demência
A nossa Constituição também reconhece expressamente os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da nossa personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da nossa vida privada e familiar e à proteção legal contra quaisquer formas de discriminação.
Por exemplo, a pessoa que vive com demência pode estar a residir num lar numa fase mais tardia da sua doença e ainda que possa já não ter a capacidade de revindicar, tem o direito a que a sua intimidade seja respeitada durante os cuidados de higiene que lhe são prestados.
Direito à saúde e direitos conexos das Pessoas que Vivem com Demência
Estes direitos consubstanciam-se, entre outros, no direito a conhecer o diagnóstico e opções de tratamento disponíveis, a ter acesso à informação sobre a sua saúde (sendo que esta é confidencial), a receber ou recusar cuidados ou intervenções clínicas, e a ser acompanhado nos serviços por uma pessoa da sua confiança.
Por exemplo, a pessoa que vive com demência e que conhece o seu diagnóstico pode querer fazer um testamento vital e deste modo salvaguardar que mais tarde, numa fase em que já não estiver capaz de tomar decisões informadas sobre a sua saúde, estas sejam tomadas pelos profissionais de saúde nos termos das diretivas que estipulou para esse efeito e/ou por alguém escolhido por si que vai assumir o papel de procurador de saúde e decidir de acordo com a vontade e no interesse da pessoa.
Direito à inclusão e participação social das Pessoas que Vivem com Demência
Direito a viver de forma independente e a ser incluído na comunidade, a estar ocupado e a realizar atividades significativas, assim a participar socialmente.
Por exemplo, a pessoa que vive com demência pode querer participar num grupo de trabalho, tal como o que foi criado em 2012 na Alzheimer Europe, composto inteiramente por pessoas com demência, que funciona segundo o lema "nada sobre nós sem nós" e visa garantir que as atividades, projetos e reuniões daquela organização refletem devidamente as suas prioridades e pontos de vista.
A reter sobre Pessoas que Vivem com Demência
• A Doença de Alzheimer e outras formas de Demência determinam a perda gradual de capacidade, mas as pessoas não perdem os seus direitos
• À medida que a doença avança, a pessoa tem o direito de ser apoiada na tomada das suas próprias decisões. Importa empoderar e facilitar.
• O diagnóstico não implica a perda de capacidade da pessoa exercer os seus direitos. A incapacidade tem de ser declarada judicialmente, através do processo de acompanhamento de maior
• Quando a pessoa não conseguir tomar decisões livres e esclarecidas, qualquer decisão tomada em sua representação deve ser o menos restritiva possível e ter em conta os seus valores, gostos e preferências.
Este artigo é da autoria da Alzheimer Portugal, que se dedica há 36 anos a promover a qualidade de vida das Pessoas com Demência e dos seus familiares e Cuidadores.
Fontes:
• Carta de Direitos das Pessoas que vivem com Demência. Projeto Dementia Rights
• Informação sobre o Testamento Vital
• Lexionário do Diário da República
• “Viver com Demência”. Gabriela Álvares Pereira e Isabel Sousa. (2022). Ed. OPP



.webp)

.png)